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Entre o digital e o itinerante: um caminho para o registro e a propagação da memória das Irmãs Franciscanas

Entre o digital e o itinerante: um caminho para o registro e a propagação da memória das Irmãs Franciscanas

Há 150 anos, as Irmãs Franciscanas da Penitência e Caridade Cristã chegaram ao Brasil. Ao longo deste século e meio, contribuíram com diversas cidades no Rio Grande do Sul e país afora. Um pouco desta trajetória é preservada no Centro Histórico Cultural (CHC) da Província do Sagrado Coração de Jesus – localizado junto ao Pensionato São José, em São Leopoldo.

Mais do que um espaço para a conservação dos objetos e documentos da Província, o Centro Histórico das Irmãs Franciscanas é um local para manter viva a memória, não só da Província do Sagrado Coração de Jesus, mas também de dezenas de cidades e instituições que foram se desenvolvendo com a ajuda e protagonismo das Irmãs. Tantas pessoas, hoje, podem agradecer por terem suas vidas tocadas pelas religiosas franciscanas.

Dessa forma, acreditando no poder mobilizador e transformador dos museus e espaços históricos, e buscando compartilhar um pouco das histórias e memórias preservadas no acervo do CHC, foi organizada a exposição “A presença das Irmãs Franciscanas em São Leopoldo”. A mostra, inicialmente, esteve no Museu do Rio, ligado a Secretaria Municipal do Meio Ambiente de São Leopoldo.

Aberta à visitação no dia 02 de abril de 2022 – data que marca os 150 anos da chegada das Irmãs a São Leopoldo –, a mostra contou com presença dos participantes da Assembleia Celebrativa, em comemoração ao sesquicentenário das Franciscanas no Brasil.  Posteriormente, a exposição foi visitada pela comunidade leopoldense, estando no Museu do Rio até o início de maio.

Ana Júlia Rocha, estudante de Museologia e estagiária do Museu do Rio comentou a importância da ação: “A gente compreende que tem uma ligação direta e indireta da trajetória das Irmãs aqui em São Leopoldo, com o Museu do Rio. Sendo o Museu um espaço de comprometimento com as narrativas que atravessaram e atravessam o Rio dos Sinos… aqui [margens do Rio dos Sinos] foi o local da chegada delas. Então, esse seria o espaço ideal pra contar um pouco dessa trajetória”, afirmou Ana Júlia.

Além disso, durante a Semana Nacional dos Museus de 2022, o Lar Santa Elisabeth recebeu a atividade, e funcionários, moradores e Irmãs puderam visitar a exposição e conversar sobre diversos aspectos da presença franciscana na cidade, retomando também elementos de suas próprias trajetórias.

Outra ação realizada em 2021 e 2022, são as oficinas temáticas com as Irmãs idosas residentes no Pensionato São José. Todas as quintas-feiras, elas realizam atividades sobre saúde, cantos, artesanato, temas ligados a religiosidade e vida franciscana, entre outros. Incluídas nessa programação, as oficinas do Centro Histórico trabalham temas diferentes e exploram os objetos e documentos do acervo. No ano passado, por exemplo, a partir dos modelos de hábito religioso que compõe a exposição permanente do CHC, o grupo de Irmãs contou sobre sua experiência, retomando as cerimônias que realizavam o uso do véu e vestimenta religiosa nos diferentes períodos.

Confira um pouco da atividade:

A itinerância, aproximando acervos das comunidades e incluindo cada vez mais pessoas em espaços culturais, em seus diferentes contextos, nos instiga a pensar cada vez o poder que os espaços de preservação da memória possuem. A capacidade de contar histórias e de auxiliar a comunidade das Irmãs, dos/as amigos/as, colaboradores e comunidade a reconhecerem sua memória de vida, construindo os caminhos que garantirão as gerações futuras também compreenderem o que hoje vivemos. Como reunião dos bens e patrimônio histórico da Província, o Centro Histórico e seu acervo deseja ser capaz de captar e abrir-se as dinâmicas de cada tempo, visando também contribuir para a promoção de um espaço de cultura, de aprendizado, de vivências significativas, que transforme a realidade.

Dessa forma, durante o período pandêmico de 2021, oito exposições virtuais foram produzidas e compartilhadas nos canais de comunicação da Província. Os vídeos contam desde a formação da Província, a vinda das Irmãs para o Brasil, os “humildes começos” desta obra missionária, o trabalho das áreas da saúde e educação, o protagonismo de diversas Irmãs nos Conselhos Provinciais e os marcos celebrativos importantes. Além disso, duas mostras fotográficas foram divulgadas: uma sobre o Hospital Colônia de Itapuã e outra alusiva ao Ano de São José, com imagens de obras de arte, selecionadas, em um caderno, por Ir. Maria José Fontoura, em 1972.

 

Visitação, pesquisa e acesso ao acervo histórico

Além das ações de divulgação dos bens do acervo, também é possível conhecer o Centro Histórico e outros documentos históricos das Irmãs, mediante solicitação. Dezenas de pesquisadores já fizeram contato com a Província do Sagrado Coração de Jesus, buscando informações para suas pesquisas – seja sobre Irmãs que integraram a comunidade ou sobre instituições em que as Irmãs contribuíram. Essas pesquisas são acompanhadas pela equipe da Secretaria da Sede Provincial, que, após entender o objetivo da investigação, fornece ao cientista os dados necessários, corroborando com a propagação da cultura e da informação.

Da mesma forma, o Centro Histórico – mediante prévio agendamento – recebe grupos de visitantes. Em 2022, por exemplo, já conheceram o acervo e exposição permanente do CHC: Irmãs do Conselho Geral, convidados da Assembleia Celebrativa vindos da Bahia e Pará, o prefeito e secretários de São Leopoldo, entre outros.

 

Informativo do Centro Histórico

Em maio desde ano, ocorreu o lançamento da primeira edição do Informativo do Centro Histórico das Irmãs Franciscanas. Uma “ponte” entre as diversas histórias contidas nos objetos e documentos do acervo e as pessoas que são próximas às Irmãs Franciscanas, bem como aqueles públicos que se interessam pela área da história e/ou museologia, o informativo é um material de digital de comunicação. Disponibilizado gratuitamente pelo site da Província, os interessados podem baixar o formato PDF e ler sobre as diversas temáticas que circundam o patrimônio histórico da Província do Sagrado Coração de Jesus.

A primeira edição amplia a história das Irmãs Franciscanas em São Leopoldo e informa sobre a organização do Centro Histórico, retomando o processo de fundação do CHC e explicando a disposição do acervo atual.

 

O serviço das Irmãs Cronistas e o registro da história da Província

Uma crônica é um gênero textual que narra a vida cotidiana das pessoas e, em geral, traz os relatos dos acontecimentos em ordem cronológica (daí deriva a origem da palavra: do grego “chronos” que significa “tempo”). Narra o que se vive, dando voz também aos sentimentos e perspectivas de quem escreve. Compõe-se, geralmente, de um texto simples, que conta determinado acontecimento e traz detalhes do ocorrido, registrando a data, as pessoas envolvidas, o local e o fato em si. Poder-se-ia dizer que a crônica é a “filosofia do cotidiano”, pois é capaz de guardar a memória de determinado momento, grafando-o nas linhas da história, a partir das impressões, muitas vezes, subjetivas de quem relata.

Na vida de Madre Madalena e de suas Irmãs, as crônicas foram fundamentais para o registro da caminhada comunitária e da consolidação da Congregação. Em cada lugar que se instalaram, as Irmãs Franciscanas da Penitência e Caridade Cristã utilizaram-se da crônica para registar os fatos e acontecimentos do que viviam. Esses textos, divididos por anos, compõem um rico acervo, que nos permitem contemplar o trabalho realizado, por exemplo, nos 150 anos de presença da Congregação no Brasil.

Na Província do Sagrado Coração de Jesus, essa prática se mantém e às irmãs responsáveis por realizarem este registro, dá-se o nome de “irmãs cronistas”. Ir. Sônia Hochscheidt, cronista da Comunidade Nossa Senhora Rainha da Paz, nos conta a importância dessa escrita:

“A Crônica deve ser um reflexo dos fatos significativos da vida da comunidade. É bom não esquecermos que é um documento que transmitirá às Irmãs do futuro, a história das nossas comunidades. É importante para o futuro da nossa Província, Congregação e para cada irmã. Por isso, a crônica deve ser registrada com simplicidade e com exatidão”, afirmou Ir. Sônia.

Além disso, as crônicas são importantes fontes de pesquisa, não só para as Irmãs Franciscanas, como também para toda a sociedade que pode encontrar documentado ações de diferentes localidades e instituições em que as irmãs estão inseridas.

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